O Presidente interino Michel Temer (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) |
As gravações que expuseram aliados do presidente interino, Michel Temer, incluindo dois senadores do PMDB, aprofundaram um ambiente de incerteza e preocupação no novo governo diante de uma margem apertada pró-impeachment de Dilma Rousseff no Senado.
Não se trata tanto de risco político para o atual governo interino de volta da petista, mas mais de condições de governabilidade na Casa que irá julgar a manutenção ou não do cenário do impeachment.
Soma-se a isso um cenário de crises menores, como a extinção e recriação do Ministério da Cultura e a falta de mulheres no primeiro escalão, que desgastaram Temer desde sua posse.
Defensores de Dilma, hoje afastada por até 180 dias, avaliam que sua situação é "complicadíssima" e que é ainda cedo para prognósticos em um processo que deve terminar entre agosto e setembro.
No entanto, a reação de alguns senadores do grupo que ainda não declarou voto no mérito do seu caso tem sinalizado alerta para Temer. O resultado final do impeachment tende a ser influenciado pelo sucesso ou não do governo interino e dos rumos da Lava Jato sobre o PMDB.
"Achei o começo do Temer muito ruim e a votação, assim como ocorreu com Dilma, também vai levar em conta o conjunto da obra do governo. Não contem que essa votação [do impeachment] já está certa", disse Cristovam Buarque (PPS-DF), um dos 14 senadores que votaram a favor do afastamento de Dilma, mas não anunciaram posição sobre a condenação.
Para o senador, é preciso que se investigue a fundo as suspeitas contidas nas conversas, reveladas pela Folha, entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que deixou o cargo de ministro do Planejamento de Temer após a sua divulgação, e o ex-presidente José Sarney.
A conta hoje no Senado indica que a votação final do impeachment deve ser apertada. A tendência é que os 22 senadores que votaram com Dilma no dia 12 de maio, quando ela foi afastada, não mudem de posição porque integram a base fiel à petista.
Ao todo, 55 votaram pela abertura do processo, um voto a mais que o mínimo necessário para que seja condenada e deixe o cargo em definitivo.
Três senadores não estiveram na sessão que afastou Dilma temporariamente. Deles, Pedro Chaves (PSC-MS), empossado no lugar do cassado Delcídio do Amaral ex-PT-MS), tende a se somar à bancada pró-impeachment.
Jader Barbalho (PMDB-PA), em tratamento médico, é ligado às gestões petistas, mas seu filho é ministro da Integração Nacional de Temer. O senador não declara posição.
Eduardo Braga (PMDB-AM) se opõe à saída de Dilma, mas sua presença é dúvida, pois está de licença médica. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não deve votar.
Nesse cenário de possíveis 56 votos favoráveis à cassação, bastaria que três senadores votassem contra para que o patamar mínimo de 54 não seja alcançado. Se isso ocorrer, Dilma volta ao Planalto.
Em meio a isso, petistas tentam articular a formação de um grupo suprapartidário de cerca de 30 congressistas que poderiam votar contra o impeachment mediante um acordo com Dilma para que, uma vez de volta, ela viabilizasse um caminho para convocar novas eleições.
"O governo tem que agir rápido. Tem que convencer investidores nacionais e internacionais de que política econômica é para conter inflação e gerar empregos. O Senado se move pelo pensamento da sociedade", disse Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).
Para o senador, Temer só continuará no cargo até 2018 se a comissão especial do impeachment der um parecer favorável com fundamentação jurídica consistente e se, na área política, o presidente interino mostrar que "está fazendo seu dever de casa".
Dilma deverá apresentar defesa prévia à Comissão Especial do Impeachment até quarta (1º). A petista é acusada de editar decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar verba de bancos federais em programas do Tesouro, as "pedaladas fiscais". Sua defesa não vê elementos para condenação.
Fonte: Folha de S. Paulo
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