Plantio de milho e feijão murcha e sofre ataque de lagartas com a estiagem em fevereiro (Foto: Honório Barbosa/Diário do Nordeste) |
A estiagem que castiga o sertão cearense nesse mês de fevereiro preocupa os agricultores e já afeta o crescimento do plantio de milho e feijão. A lavoura sofre o ataque de pragas (lagarta) e as folhas já estão murchando. Há municípios que não registram chuva nos últimos 15 dias e outros tiveram apenas precipitações localizadas e de reduzida pluviometria.
A esperança de um bom inverno que invadiu o coração do sertanejo, aos poucos começa a se desfazer, no Interior do Ceará. A alegria com a chegada de boas chuvas, na segunda quinzena de janeiro passado, aos poucos começa a se transformar em preocupação. O sol persiste quente, as nuvens se desfizeram e o tempo permanece desfavorável para a ocorrência de precipitações.
No campo, os agricultores já reclamam da falta de chuva. "Estava bom, corremos para preparar a terra e plantar", disse o produtor rural Manoel Alves, do Sítio Estrada, zona rural de Iguatu. "Plantei um hectare de milho e outro de feijão, mas a lavoura começa a murchar e parece que vou perder tudo, se não chover logo", disse.
Gravidade
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, confirmou o quadro de preocupação entre os agricultores. "Infelizmente, a situação começou a ficar crítica", disse. "Muita lavoura vai se perder nos próximos dias".
Até ontem, fevereiro registrava um déficit médio de chuva de 64%, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Em média, choveu apenas 45mm. O esperado para o período é de 127mm. Diferentemente de janeiro (pré-estação chuvosa) que registrou pluviometria acima 97% da média histórica do mês que é de 98.7mm.
Fevereiro é o primeiro mês da quadra chuvosa, que vai até maio. No próximo dia 20, a Funceme vai divulgar o segundo prognóstico, para os meses de março, abril e maio. De acordo com o meteorologista, David Ferran, a tendência é de ocorrer chuva abaixo da média para o período. "Os índices devem permanecer parecidos com os divulgados no primeiro prognóstico", disse. "O El Niño continua intenso e deve afetar o sistema de chuva no Semiárido nordestino".
Percentuais
Caso as previsões sejam confirmadas será o quinto ano seguido de chuvas abaixo da média, no sertão cearense. Em 20 de janeiro passado, a Funceme divulgou a primeira previsão para os meses de fevereiro, março e abril, em três categorias. Os dados indicaram que havia 65% de probabilidade de as chuvas ficarem abaixo da média; 25% em torno da média e 10% acima da média. Há um mês, o presidente da Funceme, Eduardo Sávio, mostrava cenário desfavorável por causa da presença do El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico). "A análise dos campos atmosféricos e oceânicos de grande escala, além dos resultados de modelos numéricos globais e estatísticos indicam uma persistência da situação que já estamos vivendo, de escassez de chuvas", disse.
Adversidade
Dados da Funceme mostram que há municípios que não registraram chuva neste mês: Granjeiro, Jucás, Saboeiro e Massapé são exemplos. Outros tiveram reduzida pluviometria: Penaforte (1mm), Altaneira (2.6mm), Aiuaba (3mm) e Tarrafas (4mm). Curiosamente, entre os dias 15 e 30 de janeiro passado houve boas chuvas em Aiuaba e Saboeiro, na região dos Inhamuns, enchendo riachos e rios, mas, neste mês de fevereiro, o quadro ficou totalmente adverso. "Não tivemos chuva e quem plantou com aquela forte esperança de um bom inverno, demonstra preocupação porque a lavoura já sente a estiagem", disse a coordenadora da Empresa de Assitência Técnica e Extensão Rural (Ematerce), em Saboeiro, Aparecida Lavor. Depois de quase 20 dias sem chuva, vem o ataque de lagartas e a folha da plantação já começa a murchar.
O meteorologista David Ferran esclareceu que permanece a previsão de chuvas localizadas nas regiões Centro e Norte do Estado, mas frisou que, em ano de ocorrência do El Niño, os estudos demonstram que as precipitações vão sendo reduzidas a partir de março.
Desfavorável
O deslocamento do sistema Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), nas duas últimas semanas, foi desfavorável à continuidade das chuvas que banharam o sertão cearense no decorrer da segunda quinzena de janeiro. A preocupação é maior porque será o quinto ano seguido de estiagem e os reservatórios estão perdendo volume. Atualmente, a média dos 153 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de 12,8%. Um índice extremamente baixo para enfrentar mais um período longo de escassez de chuva.
Se o atual quadro de chuvas abaixo da média, sem recarga nos açudes, persistir nos próximos três meses, o Ceará vai enfrentar um cenário ainda mais grave de desabastecimento nas áreas urbanas. "O governo faz o monitoramento semanal da situação e está adotando as medidas necessárias", frisou o titular da Secretária de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira. Com a perda de água nos reservatórios, o programa de adutoras emergenciais deve ficar comprometido com o passar do tempo. Além da distribuição por carros-pipa e perfuração de poços profundos, o governo deve buscar alternativas.
Regiões que eram críticas, como os Inhamuns (Tauá, Quiterianópolis) e Sertões de Crateús, ganharam um alento com as chuvas em janeiro, que contribuíram para a cheia de pequenos e médios açudes na região, assegurando o abastecimento de áreas urbanas até o fim deste ano. Já em outras regiões, onde o quadro é crítico e não houve recarga (Sertão Central e Vale do Jaguaribe), o cenário é de preocupação, não obstante os investimentos em perfuração e instalação de adutoras.
Até mesmo a população de Iguatu, na Região Centro-Sul do Estado, que se mantinha em uma situação confortável, agora está preocupada. O Açude Trussu, que abastece a cidade e Acopiara, não teve recarga até o momento e acumula apenas 22%.
Mais informações:
Funceme:
Telefone: (85) 3101- 1117
www.funceme.br
Cogerh
Telefone: (85) 3218- 7024
Fonte: Diário do Nordeste
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