Depois de um “namoro” longo, o deputado estadual Capitão Wagner (PR) acertou palanque do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) no Ceará, em encontro com Julian Lemos, vice-presidente nacional do PSL – partido que deverá lançar candidatura de Bolsonaro à Presidência da República –, nesta quarta-feira, 31 de janeiro. “Iniciamos mais do que um namoro. Já é um compromisso de palavra firmado aí no Ceará”, disse Julian ao O POVO Online.
De saída do PR para assumir a presidência do Pros no Ceará, Capitão Wagner explica que a justificativa fundamental para aliança com Bolsonaro é identificação com “maior parte” dos ideais políticos e propostas de governo. “A gente não vê, a nível nacional, qualquer candidato a presidente que defenda pelo menos parte do que eu acredito. Então, tenho que apoiar alguém que defenda a maioria”, argumenta.
Segundo Wagner, que é pré-candidato ao cargo de deputado federal, a aproximação já se desenrolava “há um tempo”, e se aguardava apenas “essa decisão” do PSL de firmar aliança. O contato com Julian Lemos já havia se iniciado “no ano passado”.
“Eles querem que a gente faça um trabalho aqui, de coligação na proporcional, juntando candidatos para (o legislativo) federal e estadual, e fazer a campanha do Bolsonaro”.
Para a candidatura e para a imagem política de Wagner no Ceará, a ligação formal ao deputado federal Jair Bolsonaro traz tanto bônus como ônus, ambos imediatos.
Por um lado, ele celebra um aceno à “grande parte” de sua militância e eleitorado que se identificam com as propostas e ideais de Bolsonaro. “Resolvi atender minha militância que, de fato, veste a camisa sem receber nada; (esses) também são militantes do Bolsonaro. Acho que a grande maioria vai ficar satisfeita”, avalia o deputado estadual.
Por outro, reconhece que não só deve sofrer críticas duras de outra parte de eleitores, “opinião da imprensa” e “setores da sociedade” antipáticos à ideia de candidatura de Bolsonaro, como já sente repercussão política dos grandes nomes de oposição no Ceará. “Eles se preocupam com a repercussão disso. Muitos ainda defendem meu nome para o governo, ainda que esteja cada vez mais distante pelas circunstâncias. Imagino que se tiver algum desgaste, será natural. Acho que a gente ganha muito mais do que perde”.
No entender de Wagner, a decisão de fechar um palanque cara a cara com o PSL representa uma saída “de cima do muro”. “Seja qual fosse minha posição eu apanharia. Mesmo se ficasse calado”, diz.
Agente de ligação entre Wagner e Bolsonaro, o novo presidente PSL no Ceará, Heitor Freire, garante que a aliança já está sacramentada: “O prego foi batido e a ponta foi virada. Vai ser capitão lá e capitão cá” (Bolsonaro é capitão da reserva do Exército e Wagner capitão da reserva da Polícia Militar).
A decisão vem após histórico ainda recente de Wagner de simpatia a pautas de esquerda e até composição de palanque com Elmano de Freitas (PT), quando candidato à Prefeitura de Fortaleza, em 2012. Heitor garante que será uma “composição de direita”; já Wagner diz ainda continuar “se identificando como político de centro”, mais inclinado à direita.
“Têm situações que são ligadas à esquerda que me identifico, como defesa dos direitos trabalhador. Isso a esquerda que construiu, historicamente. O Bolsonaro defende os servidores, especialmente os de segurança pública, e me identifico bastante também”, explica Wagner.
Com a composição de palanque de Bolsonaro no Ceará, Wagner descarta conselhos e desejo do senador Tasso Jereissati (PSDB), que via no deputado estadual nome de força para o Governo do Estado, e, como reconhece, cria um desafeto entre os líderes de oposição no Estado.
Capitão Wagner também identifica que poderá haver distanciamento do protagonismo na decisão de um nome que faça frente à Camilo Santana (PT). A participação no palanque da oposição também fica comprometida.
“Se esse bloco de partido de oposição tiver um candidato a governador, eu vou defender. Vamos estar juntos, mas eu vou apenas subir no palanque para prestar apoio, e não montar um”, diz Wagner, explicando que a divergência com a oposição no Ceará, guiada pelos tucanos e encabeçada por Tasso, é de “âmbito federal”, e não estadual.
Nesse âmbito estadual, Wagner diz ao O POVO Online ainda acreditar na possibilidade de candidatura de Tasso Jereissati, ao revelar que, ainda que a postura pública do tucano seja de negar pretensão, “não é essa postura que ele apresenta nos bastidores ”.
Já para Heitor Freire, a equação de oposição no Estado é simples: “nossa oposição será de uma verdadeira direita”, jogando PSDB para o outro espectro ideológico. “No nosso caso, será uma oposição de direita liderada no Brasil pelo Bolsonaro. As ideias do Capitão Wagner se encaixam muito bem.”
Conforme Capitão Wagner, está programada ainda uma reunião em Brasília, “logo depois do Carnaval”, “com o próprio Bolsonaro”, para definir uma vinda do presidenciável ao Ceará e outros detalhes do palanque para as eleições.
(O POVO Online / Repórter Daniel Duarte / Foto: Divulgação)
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